Pintura "Vasco da Gama perante o Samorim de Calecute", de Veloso Salgado, ganha vida em filme com banda sonora do compositor Rui Ribeiro
O realizador André Miranda e o animador Eduardo Caramujo (Corner Studio) assinam a adaptação cinematográfica da pintura Vasco da Gama perante o Samorim de Calecute, de Veloso Salgado, agora transformada num filme de animação 3D, com banda sonora original composta por Rui Ribeiro. O projecto, que integra a exposição itinerante Vasco da Gama e a Índia, promovida pelo Museu da Marinha Portuguesa, dá nova vida a um dos momentos mais simbólicos da História de Portugal: a chegada de Vasco da Gama à Índia e o seu primeiro encontro com o Samorim de Calecute. A exposição, já visitada por milhares de pessoas em Viana do Castelo e Lagos, recebeu elogios do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ruma agora a Sines, cidade natal do navegador.
Rui Ribeiro criou uma partitura que acompanha a transformação emocional da narrativa, começando com timbres e instrumentos tradicionais indianos, evocando a estranheza e a distância cultural do primeiro contacto, misturados com o som da orquestra ocidental. A música evolui depois gradualmente até atingir um clímax heróico, que espelha a astúcia diplomática de Vasco da Gama perante um cenário adverso: “Procurei que a música representasse inicialmente a incerteza e estranheza do encontro… e que evoluísse gradualmente até a um clímax heróico que traduzisse a inteligência e sensatez diplomática de Vasco da Gama, mesmo sem ter verdadeiramente nada para oferecer ao Samorim”, explica o compositor.
A sonoplastia, a cargo de Ricardo Ferreira, complementa a partitura com texturas subtis mas imersivas: o rumor do mar, o eco dos passos, o murmúrio cerimonial, e elementos sonoros que reforçam a atmosfera e acentuam a carga emocional de cada cena.
A pintura original, criada por Veloso Salgado no final do século XIX, foi concebida no âmbito das comemorações do IV Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Com mais de três metros de largura, a obra encontra-se atualmente exposta na Sociedade de Geografia de Lisboa. A sua composição grandiosa retrata o encontro entre Vasco da Gama e o Samorim, envolto num cenário de pompa, exotismo e solenidade. Foi precisamente esta imagem fixa, carregada de simbolismo, que inspirou os autores do filme a expandir a narrativa, acrescentando-lhe movimento, expressão e, naturalmente, som.
Esta recriação animada de Vasco da Gama perante o Samorim demonstra como o património visual português pode ser revitalizado através das linguagens contemporâneas do cinema e da música. Este projecto, onde imagem e som se entrelaçam, vem comprovar que a História, quando contada com arte e emoção, pode ser não apenas relembrada… mas vivida novamente.